O que precisas saber acerca do teu lado obscuro

Beleza Interior

“Nós receamos olhar a nossa sombra porque queremos evitar a vergonha ou embaraço que acompanha o reconhecimento da nossa imperfeição”.

Marianne Williamson

Todos nós temos um lado a que muitos chamam de “obscuro” ou “sombra”. Sabes a que me estou a referir?

Em que consiste esse lado “obscuro”?

De acordo com o psicólogo Carl Jung, o lado obscuro, ou sombra, é uma parte inconsciente da personalidade com a qual a parte consciente não se identifica e até mesmo rejeita.

Este lado obscuro representa a parte que é constituída, essencialmente, pelas características que desgostas ou desaprovas em ti, assim como pelas emoções e pensamentos que frequentemente te visitam. Talvez seja aquela raiva escondida que de vez em quando explode e acaba por ser projetada para quem mais amas; uma certa inveja do sucesso da tua irmã; a culpa que sentes pela paixão secreta que tens pelo melhor amigo do teu namorado; o rancor que ainda existe em ti por algo que afirmas já teres perdoado; a insegurança que tens em assumir quem tu realmente és.

Contrariamente ao lado luz, a tua sombra é algo que em geral procuras não enxergar, muito menos mostrar, ignorando e até mesmo reprimindo todas e quaisquer tentativas suas em se manifestar. Porém, quer queiras ou não, o lado sombra existe e habita em ti e, mais, ele é tão essencial quanto o lado de luz – aquela parte que inclui todas as características que consideras maravilhosas e que de maneira alguma te provocam constrangimento, medo ou sofrimento.

Estes opostos – luz e sombra – precisam coexistir de modo a criar um equilíbrio harmonioso, porque não existe dia sem noite, primavera sem inverno ou luz sem escuridão. A vivência de um oposto faz-te apreciar o outro, ou seja, ao experienciar a tristeza tu aprenderás a apreciar a alegria, a sensação de dor permite-te saborear mais intensamente a sensação de prazer; após teres passado pela escuridão haverás de prezar a luz.

Porque será que tentas esconder esse lado obscuro?

Este aspeto da tua personalidade, que se encontra também presente em todos os restantes seres humanos, expressa-se sob variadas maneiras. E, por mais que tentes esconder a tua sombra, ela acabará sempre por mostrar a sua face e, principalmente, o seu poder. Apesar de, bem lá no fundo, saberes da existência desta sombra em ti, muito provavelmente tens dificuldade em olhá-la, aceitá-la, amá-la e muito menos mostrá-la. Mas porquê?

Talvez porque, inconscientemente, receies não ser aceite e amada pelos outros, caso eles conheçam esse lado, essa imperfeição, que tu própria rejeitas em ti. Aliás, podes tu mesma chegar a uma conclusão, questionando-te: o que me impede de revelar ao mundo a inveja, raiva ou insegurança que por vezes sinto?

Em vez de aceitares o teu lado sombra, certamente, e involuntariamente, estás a reprimi-lo devido à vergonha ou medo que sentes em relação a essa parte de ti. Contudo, e de acordo com a autora Debbie Ford, “quando reprimimos qualquer uma das nossas características, vivemos em negação de tudo aquilo que somos”. Ao negares a tua sombra, estás, inevitavelmente, a negar também a tua luz. Ao rejeitares um aspeto de ti, estás no fundo a desaceitar quem tu és, como um todo – o “bom” e o “mau”, o “bonito” e o “feio”.

O que acontece quando reprimes o teu lado obscuro

Quando rejeitas uma parte de ti e a reprimes, estás, forçosamente, a colocar uma máscara sobre a face de quem és, mostrando apenas o aspeto de ti que consideras ser aceitável e aprovável. No entanto, eventualmente todas as máscaras acabam por cair. Quanto mais te esforças por manter a tua sombra escondida, mais força ela ganha e, quando menos esperas, ela faz uma entrada triunfal, pois é bem mais forte do que todas as tuas tentativas em silenciá-la.

No momento em que reprimes o teu lado obscuro, este pode acumular-se e transformar-se numa força poderosa capaz de afetar, e até mesmo destruir, a tua vida e a vida dos outros – o que tu rejeitas em ti, rejeitas também nos outros. Ou seja, reprimir a sombra não é solução.

O que a tua sombra te quer dizer

Contrariamente ao que possas julgar, o que essencialmente todas as emoções, pensamentos, medos e imperfeições, que constituem a tua sombra, te pedem que faças é que lhes dês espaço, que as permitas respirar, que as tragas para a luz, de modo a que finalmente as possas olhar, aceitar e depois, sim, libertar.

Se reparares, não é de todo difícil aceitar e amar o lado de luz, mas o mesmo não se aplica ao lado obscuro. Facilmente abres a porta a todas as características, emoções e pensamentos de que gostas e te fazem sentir bem, mas rapidamente a fechas a tudo aquilo que te provoca medo, vergonha ou dor.

Contudo, todo o espectro de características que existe em ti precisa fluir. Tu não precisas gostar da inveja ou ciúme ou raiva que possa existir em ti, nem muito menos agir sobre eles, mas podes sim aprender a respeitar, aceitar e escutá-los – “eu sei que estás aqui e sei também que não gosto da tua presença, mas eu permito-te ficar; eu aceito a tua chegada e estou disposta a escutar o que tens para me dizer”.

O que é que a raiva, que por vezes te visita, quer dizer? Que talvez possas estar a ter uma rotina demasiado sobrecarregada e exigente?!

Qual a mensagem da inveja que sentes? Que talvez não estejas a usar o teu verdadeiro potencial?!

E a insegurança que tens, o que será que te quer comunicar? Que talvez precises parar de te comparar com os demais?!

Tomar consciência de todas as emoções e pensamentos que te visitam, principalmente os que te causam sofrimento, é o passo mais importante a dar em direção à libertação do sofrimento relacionado com o teu lado sombra. Não precisas fazer mais nada, apenas sentir a emoção chegar e deixá-la fluir, sem te apegares ou identificares com ela. Se permitires que este ciclo aconteça, sem bloqueá-lo, a emoção ou pensamento irá chegar, passar por ti e voltar a sair. Tão simples quanto isto.

A história de Mara

Há milhares de anos atrás, enquanto o príncipe Siddhartha (Buda) se encontrava a meditar debaixo da árvore de Bodhi, Mara, que era um demónio, apareceu à sua frente sob a forma de uma mulher extremamente bonita e sedutora, com o objetivo de distrair Siddhartha, impedindo-o de alcançar a iluminação. Quando Siddhartha abre os olhos e vê esta mulher lindíssima, ele rapidamente se apercebe que é Mara, o demónio, e, olhando-o nos olhos, ele diz-lhe: “Eu estou a ver-te Mara, eu sei que estás aí, mas eu não te deixarei desviar-me do meu caminho”.

Do mesmo modo que Siddhartha reconheceu Mara e a sua intenção em perturbá-lo, tendo escolhido não lhe dar atenção, também tu podes fazer o mesmo. Neste contexto, Mara pode ser vista com o lado obscuro e que, ao desviar-te da tua paz interior, te provoca sofrimento.

Tal como fez Siddhartha, tu podes escolher ter uma atitude de desapego perante esta sombra. Tu sabes que ela está presente e que te está a tentar distrair, mas ainda assim tu optas por não segui-la, não prestar-lhe atenção, muito menos levar a sério as histórias, muitas vezes falsas, que te conta. Apenas a observas.

O lado obscuro não tem porque ser encarado como sendo algo negativo, porque não é. Ele habita em ti, da mesma maneira que o lado luz, e tem o seu propósito: mostrar-te tudo aquilo que precisas trabalhar em ti de modo a atingires o que mais desejas, paz interior.

Francisca Guimarães - Homeopatia

Francisca Guimarães

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